segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os dias

Sentou no banco do trem entre dois figurantes quaisquer. Os fones de ouvido bloqueando praticamente qualquer ruído externo. Pessoas de pé. Pessoas sentadas. O trem saiu.

Retorno habitual de mais um dia qualquer. Pessoas conversando. Pessoas diferentes de pessoas. Mas na massa, todos são iguais.

No meio do caminho, uma família em roupas sujas e furadas. Entregam pedaços de papel. Pedem dinheiro. É sempre assim. As pessoas variam, a questão é a mesma. Desemprego. Êxodo rural mal-sucedido. Infectado pelo vírus HIV. Como se AIDS fosse desculpa para miséria. Como se uma porta fechada trancasse as pessoas numa cela vitalícia.

Uma música qualquer. Mais uma estação. Pessoas entram, pessoas saem. Luzes na noite. Carros ao lado dos trilhos.

Chega na estação, pára de frente à porta, desce na plataforma e mescla-se com a multidão.

A mesma chuva molha todas as pessoas. O mesmo piso, o mesmo asfalto, suspendendo pés de todos os credos, cores, raças, sexos e orientações sexuais. Criminosos, pecadores, policiais, mediadores, filantropos. Todos como simples pedaços da multidão, o ser individual como mera ilusão.

E pega sua condução e vai para sua casa. E dorme. Acorda.

Assim, novamente. E novamente.

O açúcar e a anilina.

E, para variar, não há banda.

1 comentários ébrios:

Marconi disse...

Já vivi dias assim...




E piores...




E melhores...