terça-feira, 25 de outubro de 2011

Enquanto isso uma lhama de chapéu diz:

Well, this guy walked in... so I went up to him... and I, uh, I stabbed him 37 times in the chest.

[Bem, esse cara entrou... então eu fui até ele... e eu, ãh, eu esfaqueei ele 37 vezes no peito.]


domingo, 2 de outubro de 2011

Corvo


"Num voo de pombas brancas, um corvo negro junta-lhe um acréscimo de beleza que a candura de um cisne não traria."
Giovani Boccaccio


Um pequeno corvo crocitava sobre o muro.
Não me tome por tolo, meu jovem rapaz, eu já era velho antes de ter a minha própria consciência. Me lembro de velhos inimigos e de velhos rivais, bons tempos em que alguém podia se orgulhar de ter alguém com quem medir forças.
Houve tempos, tão belos, em que a prepotência era o hábito, o natural. Não que já não seja assim, mas está mais reservada nos dias atuais. Se é que pode existir uma prepotência reservada.
Na verdade, pode sim.
Não foi o tempo, não foi a vida, não foram os compromissos e muito menos os amores. Foi apenas o fluir natural das coisas, não se pode esperar que tudo seja utópico, e isso inclui a criatividade e o expressar de qualquer artista, seja ele profissional ou apenas por hobby.
Escrever, para mim, é como ter meus sonhos de dejá-vù, é como ter as minhas epifanias, é como aquela sensação mística de estar uno com tudo o que existe por uma fração de segundo. Escrever também é a minha arma, meu rifle, minha espada.
E ainda existem tolos, desta nova e [em geral] patética geração, que tentam me desafiar com palavras. Isso mesmo, com palavras. Olho para trás, para o rosto impresso nas linhas bem escritas de antigos companheiros, antigos antagonistas, e me pergunto como esse maldito destino traz algo tão lamentável para me distrair atualmente. Aliás, nem chegou a distrair.
Bons os velhos tempos em que haviam nêmesis.
Foi um bom sono. Foi revigorante.
Paro, penso. Ensino essas pequenas gralhas espalhadas por aí a voar, ou procuro por outros corvos para exercitar as asas?
Crocito, crocito.
Olho para o centro do mundo e megulho para o escuro da noite. Uma sombra no breu. A lua no olhar.


Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, 
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; 
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira 
Que queria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais, 
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais, 
Com aquele 'nunca mais'.
 E. Poe