segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A jugular

E, saltando do banco da praça para o cascalho, para a calçada, para a rua, para a outra calçada e enfim para frente de um carro em movimento, finalmente percebeu que estava em casa.

Ele nunca havia sido tão feliz quanto nesse momento fugaz.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Início do processo descriativo


"Esse é o melhor conto que já criei." pensava satisfeito aquele jovem escritor.
Pensamento que logo se esvaiu com a pequena revelação que lhe ocorreu.
"Mas que droga, esta minha personagem está completamente igual a Duda. E é bem provável que ela acabe lendo este conto. Vai acabar achando que eu escrevi por causa dela, e pior, vai achar que a personagem se deu mal na história por eu guardar algum ressentimento dela."
A história não faria o mesmo sentido se a personagem fosse outra, ou se o final acabasse diferente. Decidiu engavetar a história, era melhor do que um mal entendido assim. Ele gostava da Duda, mas não deram certo junto, e suas conversas andavam cada vez mais escassas.
Começou outro conto, tentou manter os personagens longe de qualquer pessoa. Fez três novos contos, porém o único do qual gostara novamente um personagem que poderia lhe trazer algum mal entendido.
Desistiu de escrever naquele dia, e no dia seguinte preferiu arejar a cabeça, mas não adiantou. Passou o tempo e cada vez que conseguia pensar em algo o que escrever (pois já nem se dava mais ao trabalho de fazer isso) e a história parecesse ter algum futuro sempre trancava a idéia por medo de algum mal entendido.
E assim foi, sem escrever, sem ser lido, sem mal entendido, sem nada.

E foi então que os demônios apareceram.
Não esses demônios bíblicos, nem nada do tipo, mas sim em sua mente, medos, desespero, fracasso, ódio. Este pobre jovem escritor.