sábado, 22 de agosto de 2009

Nicolas de Lenfent



Seus dedos pairaram sobre as cordas. Depois tamborilaram na madeira oca. E então, tremendo, ele começou a dedilhar as cordas e a apertar as cravelhas para afiná-las muito lentamente, como e estivesse descobrindo o processo em perfeita concentração pela primeira vez.

Crianças riram em algum lugar lá fora, no bulevar. Rodas de madeira passaram com estrépito sobre as pedras arredondadas. As notas em staccato eram irritantes, dissonantes, e aguçaram a tensão.

Ele pressionou o instrumento no seu ouvido por um momento. Tive a impressão de que não se moveu de novo por uma eternidade, mas então, lentamente, ele foi se levantando. Eu saí do poço da orquestra, sentei-me em um dos bancos da platéia e fiquei olhando para su negra silhueta recortada contra o brilho do palco iluminado.

Ele olhou para o teatro vazio como fizera tantas vezes antes, no momento do intervalo, e ergueu o violino até o queixo. E, num movimento tão rápido que mais pareceu um clarão de luz no meu olho, ele passou o arco sobre as cordas.

Os primeiros e agudos acordes vibraram no silêncio da sala, depois, na medida em que se tornavam mais graves, foram se alongando, chegando a arranhar o fundo do próprio som. As notas se elevaram, puras, melancólicas e penetrantes, como se fossem extraídas do frágil violino por meio de alguma alquimia, e uma sincopada torrente melódica inundou subitamente o salão.

Ela pareceu percorreu todo o meu corpo, penetrar até nos meu ossos.

Eu não conseguia ver o movimento dos seus dedos, nem o arco batendo sobre as cordas; tudo que podia ver era seu corpo se contorcendo, sua postura tortuosa, a música fazendo-o inclinar-se para frente e para trás.

Ela tornou-se mais alta, mais aguda, mais rápida, porém a tonalidade de cada nota era perfeita. Era uma execução sem nenhum esforço, a virtuosidade além dde qualquer sonho mortal. E o violino estava falando, não apenas cantando, estava contando uma história.

1 comentários ébrios:

Marconi disse...

Esqueci de por os créditos.

Anne Rice.