sábado, 1 de maio de 2010

Outono particular.

Pare para pensar: a clorofila se esvai, tudo que presta e tudo que vale a pena seca, murcha e morre. Tudo.

A natureza humana é a decadência. Uma mania de perseguição bem fundamentada. Uma esquizofrenia coerente. Pulsos e punhos, carótidas e coronárias. Somos pontos de quebra, de tensão, de impacto.

Vou contar uma pequena estória, que não aconteceu comigo.

Um belo dia um rapaz estava caminhando pelas ruas. Era outono. O assoalho coletivo forrado de folhas secas, amarelas e marrons. Pessoas de bicicleta pela rua. Pessoas a pé, ou dentro de seus carros. Mas o rapaz não estava a pé, pois não rumava a lugar algum. Apenas trocava alguns passos consigo mesmo, em padrão aleatório. Trocando pernas, a tropeçar a cada esquina, a esbarrar em cada senhora que insiste em andar com a bolsa grudada em seus rins e com a cabeça vigiando as próprias canelas.

Uma dessas senhoras fidedignas esbarrou nele com mais força do que as demais, e virou-se para xingá-lo de forma proporcional ao crime que ele cometeu. O rapaz simplesmente seguiu seu andar aleatório, o que despertou ainda mais ira na nossa querida senhora. No ápice de sua ira, em seu instinto belicoso enterrado há tanto tempo, a mulher de meia idade correu atrás do rapaz e parou em sua frente, encarando-o e dizendo "Mas tu não tem respeito, é?! Acha que pode simplesmente empurrar as pessoas ao acaso do teu caminho assim? Quem tu pensa que é, seu muleque?!". Ao que o rapaz responde "Eu sou algo, e tu não é ninguém, minha humilde senhora. Passo por ti e então nunca mais. Esse é o meu outono, e tu nem é folha de minha árvore. Pois assente-te no chão da calçada com as demais enquanto te deixo para trás, e passar bem.", de forma pacata.

A mulher explode em diversas folhas secas, amarelas e marrons.

1,3m² de matéria seca. Morta.

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