sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Bar

Num bar. Sentado,uma garrafa úmida na frente. Cerveja. Um copo, pela metade. (metade cheio ou metade vazio?)


Lentamente, balançando a cabeça ao som do blues que toca ao fundo (uma banda ensaia sem saber) , ele retira o rótulo da cerveja. Polar. Ele retira o rótulo pois não pode retirar a roupa de um morena. Uma certa morena, aquela mesma.


Ele dá um sorriso triste (pode? pode, claro) e suspira. O suspiro é a marca do abandonado. E nesse caso, ele foi abandonado por si mesmo.

Cansou de lutar. E de tentar. A distância e a frieza impedem. Outros diriam que foi medo. Outros, a fatalidade. Ou a vida ,essa imensa sacana.

Num bar. Sentado sozinho. O blues continua e então tocam aquela canção. A canção que embalou algumas noites deles. Algumas noites em que ele ficou sonhando com ela e algumas noites em que ele ficou, como hoje, chorando por ela.


"Como, como algo assim pode doer tanto?"


Uma inquietação. A banda parou de ensaiar. O guitarrista passa e acena com a cabeça.



ele continua. Sem saber. Sem pensar. Só pensa nela,nela,nela.

E naqueles cabelos. E naquela marca de nascença no ombro direito. E no modo como ela parecia olhar pra ele, quando ele teimava algo. Havia amor naquele olhar.

E então o garçom troca a garrafa.

Dá um sorriso fraco ao ser pego por uma lembrança. A força que fazemos pra esquecer é proporcional á força com que as lembranças voltam.

Ele retira o rótulo de novo. É como se recomeçasse a acariciar ela. lembra até do modo como ela se espreguiçava de manhã, quando tocava no pé dele, uns dois minutos antes do despertador tocar.

Outro soriso fraco. (tá ficando repetitivo, mas toda dor de cotovelo é assim)

Sensação de nada. De não poder fazer nada. De nunca mais amar ninguém sem lembrar dela.


De nunca mais olhar pra uma margarida sem lembrar dela.

De nunca mais esquecer dela.

Mas ele vai. Assim que ele voltar do banheiro, vocês podem perceber.

Algo se ajeitou dentro dele. Algo se depositou no fundo.

E apesar de ele ainda suspirar, e relembrar (ele vai continuar relembrando e suspirando durante muito tempo) ele vai continuar.

É o único modo. Não há outro jeito. Mesmo a ideia que passou antes pela cabeça dele, aquela ideia de dizer "adeus mundo cruel" mesmo essa está dentro do único modo de seguir adiante.


Diga a verdade doa a quem doer.

Outro suspiro, outra garafa, outro blues.

E seguirá assim.

Vai doer? Vai. Está doendo? Está. É assim que tem que ser.
É assim que somos e sempre seremos.


Outra garrafa,outro suspiro. Assim.

E lave as mãos, agradeça ao garçom, chore em casa e siga.

Siga.

3 comentários ébrios:

Nadja disse...

não entendo indiretas.

Nadja disse...

imagino um comentário do frodo: 'não foi pra você.'

Frodo disse...

Se ela imagina, pra que comentar, né, Frodo?