sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vidas velhas e conhecidas

"O início, o fim e o meio..."
Talvez alguns fins a mais, e outros tantos inícios. Ou um eterno meio.

E ele passeava por Porto Alegre. Não, não era aquela boêmia da cidade baixa. Tampouco pelos belos parques, do Farroupilha ao Jardim Botânico. Não caminhava pelo cais, nem pela orla do Guaíba. Não estava entre shoppings ou mesmo o Mercado Público. Não estava em nenhuma das casas de cultura, nem em museu algum.

Gostava de todos esses lugares, isso era certo, mas estava simplesmente andando por uma velha e conhecida rua, sob um belo céu nublado.
Nessa mesma rua encontrou um sebo, tão velho e conhecido quanto. Entrou, assim como os cheiros dos antigos livros lá dentro entrou em suas narinas. Acenou com a cabeça e disse oi ao também velho casal que trabalhava no caixa.
Começou a percorrer os corredores e as prateleiras.
Quantas belas velharias. Algumas até raras. Outras sem valor algum.
Mentalmente ia lembrando de cada uma das histórias que os livros lhe traziam. Guerras, conquistas, amores, romances, traições, loucuras, mistérios, alegrias, filosofias... ah, mundos e fundos, literalmente.
O subconsciente lhe transbordava de citações que sequer lembrava de um dia ter lido.
O consciente buscava algum livro de algum autor preferido.

De alguma caixa de som escondida começa uma música calma, mas bela. Fechou os olhos, sim, era Elvis.
Sorriu e voltou às prateleiras.
Sem motivo aparente olhou para a entrada do sebo. Tão velho e conhecido. E viu um casal, demorou-se alguns segundos os olhando e voltou para os livros ao alcance da sua mão.
Eles não queriam entrar, mas os amigos os empurraram para dentro. Cada um o olhou demoradamente.
O casal passou rapidamente por eles, e se ele os notou não deu sinal algum.
Os outros lhe cumprimentaram, um a um. E ele os respondia polidamente, sem nunca desconcentrar-se dos livros ou ao menos virar-se para olhá-los.
Aquele pequeno e estranho grupo o olhava desconfortável, enquanto ele parecia nem os notar. O provável era que estivessem desconfortáveis exatamente por causa disso.

No fim ele encontrou três livros dos quais estava procurando. E então foi falar com o velho casal do caixa. Conseguira alguns trocados de desconto, oras, melhor do que nada.
Ao sair do velho sebo, parou ao lado da vitrine, uma leve garoa caía lá fora e precisava proteger os livros.
Fazia isso e uma mão pousou no seu ombro, e uma voz lhe pedia para conversar. Conhecia a voz, conhecia a mão e conhecia melhor ainda a conversa.
Terminou de arrumar os livros e a mão continuava em seu ombro. Lentamente colocou sua mão entre ela.
O resto foi extremamente rápido, apesar de não parecer ter sido assim.
Ele apertou e torceu a mão. Ficou cara a cara com o dono dela, que começava a gritar por causa da dor. Ele sorri calmamente, diz não e segue pela velha e conhecida rua, deixando para trás alguns dedos deslocados na mão de alguém.

O infinito não tem início ou fim, é um eterno meio.

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